As ciências naturais associadas à tecnologia produzem fatos estarrecedores. Um dos últimos foi a seleção de um embrião livre do gene BRCA1 defeituoso, relacionado com a ocorrência de câncer de mama e de ovário. Esse gene, identificado em 1994, pode ser detectado por meio de teste de DNA e levou algumas mulheres a decidir pela retirada precoce das mamas, para evitar a doença quase certa.
Grosso modo, a técnica utilizada nessa seleção baseia-se em promover a fertilização “in vitro” para obtenção de embriões, procedimento que ficou muito conhecido na produção do “bebê de proveta”, realizado com sucesso, pela primeira vez, no final da década de 70, com o nascimento de Louise Brown, na Inglaterra, mesmo palco para esse novo avanço na inseminação artificial. Pois bem, o que fizeram agora traz um importante diferencial, já que dos vários embriões formados apenas alguns foram escolhidos, justamente os geneticamente adequados pela ausência do gene BRCA1 mutante.
Muita calma nessa hora, procedimentos semelhantes ao recentemente noticiado se enquadram perfeitamente no darwinismo social, uma ideia de seleção muitas vezes usada para tentar justificar a superioridade de um grupo de pessoas sobre outro, com base no princípio da sobrevivência do mais apto. Esse recurso foi representado, por exemplo, por Aldous Huxley em 1931, em seu livro “Admirável Mundo Novo”, e no filme “Gattaca” de 1997, dirigido por Andrew Niccol.
A sociedade precisa ruminar bem a questão da seleção de embriões “geneticamente favoráveis” antes de tornar rotina esse expediente. É imprescindível que haja o debate sobre as questões éticas implicadas nessa ação. Creio que são temerários os avanços da ciência e tecnologia sem o acompanhamento da sociedade. Não vamos confundir modernização com modernidade. Os progressos da ciência deveriam ser frutos dos anseios da sociedade e não apenas impelidos na população, sem a devida apreciação e aprovação, valendo-se do mirrado senso crítico do povo, consequência do desconhecimento sobre o tema. Ciência, tecnologia e sociedade devem caminhar juntas na construção de uma humanidade mais harmoniosa. Caso contrário, receio sermos novamente surpreendidos por problemas criados a partir de resultados inicialmente positivos e comemorados (lembremos do E=mc2 de Einstein e a bomba atômica, por exemplo). Afinal de contas, a ciência não é neutra e, por isso, devemos estar sempre alertas para discernir o lado no qual ela se encontra.
Publicado no Jornal Correio da Paraíba em 25 de Janeiro de 2009
Grosso modo, a técnica utilizada nessa seleção baseia-se em promover a fertilização “in vitro” para obtenção de embriões, procedimento que ficou muito conhecido na produção do “bebê de proveta”, realizado com sucesso, pela primeira vez, no final da década de 70, com o nascimento de Louise Brown, na Inglaterra, mesmo palco para esse novo avanço na inseminação artificial. Pois bem, o que fizeram agora traz um importante diferencial, já que dos vários embriões formados apenas alguns foram escolhidos, justamente os geneticamente adequados pela ausência do gene BRCA1 mutante.
Muita calma nessa hora, procedimentos semelhantes ao recentemente noticiado se enquadram perfeitamente no darwinismo social, uma ideia de seleção muitas vezes usada para tentar justificar a superioridade de um grupo de pessoas sobre outro, com base no princípio da sobrevivência do mais apto. Esse recurso foi representado, por exemplo, por Aldous Huxley em 1931, em seu livro “Admirável Mundo Novo”, e no filme “Gattaca” de 1997, dirigido por Andrew Niccol.
A sociedade precisa ruminar bem a questão da seleção de embriões “geneticamente favoráveis” antes de tornar rotina esse expediente. É imprescindível que haja o debate sobre as questões éticas implicadas nessa ação. Creio que são temerários os avanços da ciência e tecnologia sem o acompanhamento da sociedade. Não vamos confundir modernização com modernidade. Os progressos da ciência deveriam ser frutos dos anseios da sociedade e não apenas impelidos na população, sem a devida apreciação e aprovação, valendo-se do mirrado senso crítico do povo, consequência do desconhecimento sobre o tema. Ciência, tecnologia e sociedade devem caminhar juntas na construção de uma humanidade mais harmoniosa. Caso contrário, receio sermos novamente surpreendidos por problemas criados a partir de resultados inicialmente positivos e comemorados (lembremos do E=mc2 de Einstein e a bomba atômica, por exemplo). Afinal de contas, a ciência não é neutra e, por isso, devemos estar sempre alertas para discernir o lado no qual ela se encontra.
Publicado no Jornal Correio da Paraíba em 25 de Janeiro de 2009
A maldade realmente me assusta! Infelizmente todos os avanços que fizemos são acompanhados de distorções e uso indevido e anti-ético. Começando pelo uso do fogo há milhares de anos, que em vez de aquecer e proteger serviu de arma de dominação a grupos desfavorecidos, passando pela revolução socialista que desfocou um ideal de sociedade sem injustiças e transformou-se na manifestação da ditadura e da censura, até mesmo uma descoberta tão grande como a utilização do DNA.
ResponderExcluirDe maneira alguma eu gostaria de ver o isolamento e identificação de genes 'malignos' como mais uma forma de discriminação humana. As pessoas que nascem com eles deveriam ser privadas de divulgação e a criança deve nascer de qualquer maneira, e essa identificação só deveria servir para um tratamento imediato ou estudo do avanço do câncer, podendo quem sabe até encontrar uma solução pras essas mutações.
Concordo, Talles!
ResponderExcluirVale salientar que a ciência deve continuar avançando mas sempre dentro dos limites da ética.