Agora, leia atentamente o texto sobre evolução biológica humana
Como e quando surgiu
o homem? Quais foram as pressões seletivas que induziram mudanças físicas no
homem? Por que passamos a andar em pé? O que nos levou ao descomunal aumento do
cérebro?
O homem
como primata
Como e por que o
homem adquiriu suas características únicas, tão distintas dos outros animais,
pode ser respondido através de dois tipos básicos de fatores seletivos: as
mudanças no meio ambiente e as modificações no comportamento.
As principais mudanças no ambiente foram
provocadas pela criação das cadeias de montanhas no Rift Valley. Essa barreira
natural passou a reter os ventos e nuvens e modificaram o clima no leste da
África há 8 milhões de anos. Enquanto o lado oeste não sofreu grandes mudanças
climáticas e suas florestas tropicais permaneceram abrigando os ancestrais dos
gorilas e chimpanzés, o lado leste caracterizou-se por um aumento gradativo de
aridez nas áreas habitadas pelos hominídeos (ancestrais do homem), causando a
criação de um novo habitat que variava desde as savanas florestadas até as
áreas muito áridas, quase desérticas. A ocupação e sobrevivência nesse novo
habitat forçou as mudanças no comportamento. E diversos fatores intimamente
correlacionados, descritos a seguir, favoreceram e explicam essas modificações
no comportamento.
A Locomoção Bípede
Frequentemente diz-se
que os nossos ancestrais adotaram posição ereta e locomoção bípede quando
passaram da vida arbórea para a vida no chão. Contudo, essa correlação não é
necessária. Nenhum dos outros grandes primatas terrestres adotou o bipedalismo.
Gorilas e chimpanzés andam no chão com as articulações dos dedos e os babuínos
são estritamente quadrúpedes. Como não sabemos exatamente como isso ocorreu, podemos
apenas sugerir que alguma peculiaridade dos ancestrais arborícolas dos hominídeos
primitivos, como braços mais curtos, assim como alguma pré-adaptação anatômica,
tenha favorecido o bipedalismo.
A locomoção bipedal,
em especial nos seus estágios primordiais, deve ter sido uma forma muito
ineficiente de locomoção para um mamífero de quatro membros. Porém, só evoluiu
nessa direção porque fornecia vantagens. E, presumivelmente, suas maiores
vantagens seletivas foram permitir uma melhor visão das redondezas (prevenção
de predadores e visualização de alimento), liberar os membros anteriores para
problemas novos de comportamento (possibilitou um melhor aproveitamento e
utilização das mãos na manipulação de ferramentas e no transporte de alimento)
e diminuir a área do corpo que sofria a incidência da radiação solar em campo
aberto (possibilitou a procura de alimento nos horários mais quentes, quando os
outros animais, especialmente os predadores, estavam inativos).
O início do
bipedalismo se encontra nos primórdios da linhagem hominídea, mas seu
aperfeiçoamento deve ter ocupado a maior parte do tempo subsequente. As
diferenças de pélvis e extremidades posteriores entre os gêneros Australopithecus e Homo mostram que foram necessários cerca de 2 milhões de anos para
aperfeiçoar o bipedalismo.
A Utilização de Ferramentas
Acreditava-se
antigamente que o uso e a fabricação de ferramentas fosse o fator fundamental
para o aumento dramático no tamanho do cérebro no estágio Homo erectus. No entanto, sabe-se hoje que o uso e a confecção de
ferramentas é muito comum no reino animal - os chimpanzés são exímios no uso de
ferramentas e capacitados a adaptar apetrechos naturais aos seus propósitos.
A confecção de ferramentas simples no estágio Australopithecus e Homo habilis aparentemente não provocou uma pressão seletiva forte para o aumento no tamanho do cérebro e não exigiu uma reconstrução mais profunda das extremidades anteriores. As ferramentas só se tornaram cruciais para a evolução humana, com maior significado seletivo, somente na passagem do estágio Homo erectus para Homo sapiens, quando a sobrevivência passou a depender do aumento na capacidade de criar e usar novas e melhores ferramentas de trabalho e de luta.
A confecção de ferramentas simples no estágio Australopithecus e Homo habilis aparentemente não provocou uma pressão seletiva forte para o aumento no tamanho do cérebro e não exigiu uma reconstrução mais profunda das extremidades anteriores. As ferramentas só se tornaram cruciais para a evolução humana, com maior significado seletivo, somente na passagem do estágio Homo erectus para Homo sapiens, quando a sobrevivência passou a depender do aumento na capacidade de criar e usar novas e melhores ferramentas de trabalho e de luta.
O Aumento no Tamanho do Cérebro
O caráter diferencial
mais importante entre o homem e os demais antropoides é certamente o descomunal
aumento do cérebro, acompanhado pelas faculdades permitidas por essa nova massa
encefálica. O aumento dramático de tamanho do cérebro humano no espaço de tempo
compreendido entre 1,3 e 0,3 milhão de anos atrás, ou seja, 1 milhão de anos, é
a modificação evolutiva mais rápida que se tem conhecimento – dos primeiros
macacos hominoides aos primeiros hominídeos, cerca de 12 milhões de anos se
passaram sem grandes aumentos na capacidade endocraniana média.
Qualquer tentativa de
descobrir o que teria sido responsável por este acontecimento evolutivo
dramático é sempre hipotética. Certamente, o responsável foi uma combinação de
pressões seletivas sobre a mudança do homem para uma zona adaptativa
inteiramente nova. Entre os fatores causais, três parecem ter sido
particularmente importantes. Antes de descrevê-los, cabe um esclarecimento
quanto à suposição de que a introdução de uma dieta mais rica em carne
(proteína) foi uma das principais causas do rápido crescimento do cérebro.
Sabemos hoje que uma dieta rica em proteína animal é muito importante para o
desenvolvimento da criança. No entanto, não se pode atribuir a esse fato
tamanha distinção, haja vista que nenhum dos grandes mamíferos carnívoros
evoluiu para um considerável aumento do cérebro simplesmente porque comia
carne. Como será visto adiante, o mais importante foi a mudança na dieta e não
a dieta em si. Em outras palavras, a busca de soluções mais eficientes para a
obtenção da carne (captura da presa) foi mais importante do que comê-la
simplesmente. A dieta mais rica em proteínas pode, isto sim, ser considerada
como um fator adicional concomitante que forneceu as condições nutritivas favoráveis
ao crescimento do cérebro.
A Reconstrução do Crânio
O aumento do tamanho
do cérebro foi o mais importante fator responsável pela reconstrução completa
do crânio. Duas pressões seletivas adicionais também favoreceram esta
reconstrução. Uma foi o deslocamento do suporte do crânio para frente,
resultante da posição ereta. A outra foi a diminuição da pressão seletiva
favorável a mandíbulas fortes e dentes grandes, desnecessários para alimentos
mais macios (mudança na dieta), pré-cortados (ferramentas) ou preparados
(fogo). Tudo isso possibilitou a redução das mandíbulas, dentes e a parte
facial do crânio – com a redução dos músculos faciais e de todas as cristas e
elevações ósseas às quais se prendiam esses músculos – e a simultânea ampliação
da parte cerebral.
O Papel do Comportamento
O comportamento (e
suas mudanças) é uma das mais fortes pressões seletivas no reino animal. A
evolução dos hominídeos foi extremamente rica em transformações: arborícola
para terrestre, dieta vegetariana para aumento da dieta de carne, uso de
ferramentas para confecção de ferramentas, e outras mais. Um dos aspectos mais
significativos do comportamento hominídeo foi o aumento gradual do tempo
dispendido para os cuidados com a prole.
Cuidado com a prole: a instituição dos
cuidados com a prole, marcante em todos os mamíferos, permitiu um decréscimo da
mortalidade ao acaso (acidental). A sobrevivência da prole passou a depender
cada vez mais da qualidade do cuidado dado pelos pais. O aumento do tamanho do
cérebro foi acompanhado por um aumento do tempo de desenvolvimento do filhote
e, consequentemente, um aumento do período durante o qual é necessário o
cuidado materno. Esse desenvolvimento reforça o valor seletivo do cuidado com a
prole e provoca pressão seletiva mais intensa em favor de um aumento do cérebro
dos pais.
O homem
e seus ancestrais
Adaptado
de: http://portaldomeioambiente.org.br/contribuicoes-de-nao-colunistas/3580-origem-e-evolucao-humana.html
Claro e sintético. Ótimo texto, Job!
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