Não há dúvidas que seria mais confortável aceitar o conceito biológico de espécie proposto por Ernest Mayr em 1942: um pool gênico, um grupo de populações que podem cruzar entre si, mas são incapazes de intercruzar com outras. Todavia, a biodiversidade invariavelmente não se enquadra nos cômodos conceitos que inventamos. A vida é repleta de variações e peculiaridades que inviabilizam nossas unanimidades.
Não se assustem. Atualmente existem pelo menos 26 conceitos publicados para tentar definir espécie.
Em meados do século XVIII, Linnaeus defendia esse táxon como um grupo de organismos dotados de certas características estruturais típicas, ausentes em outras espécies. Um conceito também bastante convidativo.
Darwin entendia o termo espécie como um conceito arbitrário, cunhado apenas por mera conveniência, para designar um grupo de indivíduos muito semelhantes entre si, já que as espécies nunca foram entidades fixas. Elas evoluem.
O conceito de Mayr é o modelo padrão dos livros-texto de biologia. Entretanto, um olhar mais acurado coloca em xeque essa definição: existem espécies que apesar de relativamente distintas, intercruzam regularmente; há populações tão isoladas que o sexo entre elas é pouco frequente; ocorrem espécies que não apresentam sexo. E aí? Como ficamos? Sem contar com a dificuldade de enquadrar os micro-organismos, principalmente arqueas e bactérias, nessa ideia de espécie.
Existe uma tentativa de criar um conceito filogenético, que substitui o fator sexo pelo pensamento de ancestralidade comum. Organismos aparentados compartilham características porque compartilham de um mesmo ancestral. Legal, né? Há controvérsias. Alguns estudiosos dizem que essa classificação irá promover um aumento absurdo no número de espécies.
A vida de um sistemata não é fácil. Mas é por essas e outras que a biologia se caracteriza como uma ciência dinâmica, rica e solícita à evolução. Que tal contribuir com a construção (ou desconstrução) de seus conhecimentos?
Fonte: ZIMMER, C. O que é uma espécie? Scientific American Brasil. Ano 6, No 74, Julho de 2008. (Adaptação nossa)