quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

ESPÉCIE?



Não há dúvidas que seria mais confortável aceitar o conceito biológico de espécie proposto por Ernest Mayr em 1942: um pool gênico, um grupo de populações que podem cruzar entre si, mas são incapazes de intercruzar com outras. Todavia, a biodiversidade invariavelmente não se enquadra nos cômodos conceitos que inventamos. A vida é repleta de variações e peculiaridades que inviabilizam nossas unanimidades.
Não se assustem. Atualmente existem pelo menos 26 conceitos publicados para tentar definir espécie.
Em meados do século XVIII, Linnaeus defendia esse táxon como um grupo de organismos dotados de certas características estruturais típicas, ausentes em outras espécies. Um conceito também bastante convidativo.
Darwin entendia o termo espécie como um conceito arbitrário, cunhado apenas por mera conveniência, para designar um grupo de indivíduos muito semelhantes entre si, já que as espécies nunca foram entidades fixas. Elas evoluem.
O conceito de Mayr é o modelo padrão dos livros-texto de biologia. Entretanto, um olhar mais acurado coloca em xeque essa definição: existem espécies que apesar de relativamente distintas, intercruzam regularmente; há populações tão isoladas que o sexo entre elas é pouco frequente; ocorrem espécies que não apresentam sexo. E aí? Como ficamos? Sem contar com a dificuldade de enquadrar os micro-organismos, principalmente arqueas e bactérias, nessa ideia de espécie.
Existe uma tentativa de criar um conceito filogenético, que substitui o fator sexo pelo pensamento de ancestralidade comum. Organismos aparentados compartilham características porque compartilham de um mesmo ancestral. Legal, né? Há controvérsias. Alguns estudiosos dizem que essa classificação irá promover um aumento absurdo no número de espécies.
A vida de um sistemata não é fácil. Mas é por essas e outras que a biologia se caracteriza como uma ciência dinâmica, rica e solícita à evolução. Que tal contribuir com a construção (ou desconstrução) de seus conhecimentos?

Fonte: ZIMMER, C. O que é uma espécie? Scientific American Brasil. Ano 6, No 74, Julho de 2008. (Adaptação nossa)

9 comentários:

  1. Caro Job.

    Atrevo-me a dizer que qualquer coneito se refere a algo estanque e sabemos que a vida é algo dinâmico e que, portanto,não cabe em qualquer conceito. Por isso digo que vida é vida e não outra coisa.
    Penso que devemos, entretanto, empreender todos os esforços para compreender esse movimento, essa dinâmica da natureza e do homem, por consequência a fim conseguirmos estabelecer uma trilha para o futuro e para a felicidade.
    Lupa

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  2. A questão do cruzamento fértil sintetiza bem seres macroscópicos dióicos, não é mesmo? entretanto é incapaz de classificar bactérias ou seres que realizam partenogênese. Na minha opinião deveríamos usar o DNA para esse tipo de classificação, não o finger-print, que individualiza os seres até mesmo dentro desse mesmo táxon, mas o DNA-lixo, já que o mesmo é considerado resquício do processo evolutivo, e se dois seres pertencem a mesma linha evolutiva, devem ter o DNA-lixo bem próximo um do outro. Ou não.

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  3. Cada nova descoberta sobre o "DNA-lixo" aponta para propriedades ques transcendem a questão de vestígios da evolução: os misteriosos (por enquanto) elementos transponíveis, a regulação gênica e a proteção da porção codificante do genoma. Aliás, acredito que a biologia molecular comparada seja uma ferramenta do estudo sobre evolução, entretanto, não sozinha. A paleontologia e anatomia e embriologia comparada também são imprescindíveis para traçar a história evolutiva dos organismos.

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  4. profesor vocÊ afirmou que o conceito biologico não valem para seres asexuados,mas seres asexuados realizam um outro tipo de reprodução mesmo sendo entre ele mesmo,gerando descendentes ferteis mesmo que seja por bipartição ou gemiparadidade ainda é um tipo de reprodução entre a mesma especie gerando descendentes ferteis que posteriomente darão continuidade a esses seres.
    se eu estiver errado por favor poste um comentario me corrigindo.

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  5. Segundo Mayr, as espécies são grupos de populações naturais que podem cruzar entre si e que são reprodutivamente isoladas de outros grupos. Esse é o famoso conceito biológico de espécie. De fato, ele não é válido para grupos que se reproduzem apenas assexuadamente, pois não há cruzamento nessa modalidade reprodutiva. Tanto na bipartição quanto na gemiparidade um indivíduo gera outro(s) isoladamente, sem cruzamento e, por isso, caso só se reproduzam dessa forma, não são comtemplados no conceito biológico de espécie.

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  6. "Existe uma tentativa de criar um conceito filogenético, que substitui o fator sexo pelo pensamento de ancestralidade comum."

    =O

    Isso quer dizer que homem e chimpanzé seriam da mesma espécie? Porque eles são muito aparentados, não?

    "Alguns estudiosos dizem que essa classificação irá promover um aumento absurdo no número de espécies."

    Não entendo como isso encaminha p/ um aumento "absurdo" do número de espécies. Pela citação anterior, eu entendi que espécies diferentes passariam a fazer parte de uma espécie levando em consideração as muitas semelhanças e ancestralidade.

    Plutão

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  7. Plutão,

    Vou tentar esclarecer o que está posto.

    Em 1989, Joel Cracraft propôs que espécie, do ponto de vista filogenético, "é um grupo característico de organismos, passível de ser diagnosticado como distintos de outros grupos equivalentes, e dentro do qual há um padrão que liga a ancestralidade à descendência".

    O problema deste conceito é que não está claro que tipo de critérios serão adotados para caracterizar o grupo. Portanto, qualquer critério reconhecido como válido, como comparações entre sequências de DNA, pode ser usado. Daí, dependendo do modo como for feita, a classificação pode fragmentar ainda mais o número de espécies, visto que existem variações genéticas em uma população.

    Lembre-se também da dificuldade de se identificar a história evolutiva de parte das espécies para classificá-las neste nível.

    Espero ter ajudado você a compreender meu texto.

    Qualquer dúvida, terei satisfação em tentar dissipar.

    P.S.: o que escrevi agora tirei do livro "biologia dos organismos" de Amabis e Martho.

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  8. Job, quanto tempo!!
    Estava lendo um artigo de Olavo de Carvalho sobre a teoria da seleção natural, de Darwin e gostaria de saber qual a sua opinião acerca das proposições do artigo, pois baseia-se no conceito que o neodarwinismo é muito diferente do darwinismo e seu principal fundamento é falho e determinista. O artigo está disponível no site: http://www.olavodecarvalho.org/semana/090220dc.html

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  9. Gabriela,

    Dei-me o trabalho de ler o referido texto. Ele é simplesmente ridículo e ofende a ciência e os cientistas. Não encontrei nada que se possa aproveitar dele. Sobre os conceitos de Darwinismo e neodarwinismo, fique com o entendimento que os livros de biologia trazem, esses lhe serão mais úteis.

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