terça-feira, 14 de julho de 2009

LITERATURA E ECOLOGIA


A literatura me fascina! E o meu encantamento é maior quando encontro referências significativas à questão ambiental nos livros que despretenciosamente leio. Atente para o alerta que nos faz o Gabriel García Márquez em O amor nos tempos do cólera (p.408-409):


[...] Navegavam muito devegar por um rio sem margens que se dispersava entre praias áridas até o horizonte. Mas ao contrário das águas turvas da desembocadura, aquelas eram lentas e diáfanas, e tinham um resplendor de metal debaixo do sol impiedoso. Fermina Daza teve a impressão de um delta povoado de ilhas de areia.

- É o pouco que nos vai restando do rio - disse o comandante.

Florentino Ariza, com efeito, estava surpreendido com o que havia mudado, e mais ainda estaria no dia seguinte, quando a navegação ficou mais difícil, e percebeu que o rio pai, o Madalena, um dos maiores do mundo, não passava de uma ilusão da memória. O capitão Samaritano explicou como o desmatamento irracional tinha acabado com o rio em cinquenta anos: as caldeiras dos navios tinham devorado a selva emaranhada de árvores colossais que Florentino Ariza sentia como uma opressão na primeira viagem. Fermina Daza não veria os bichos de seus sonhos: os caçadores de peles dos curtumes de Nova Orleans haviam exterminado os jacarés que fingiam de mortos com as fauces abertas durante horas e horas nos barrancos da margem para surpreender as borboletas, os louros com suas algaravias e os micos com seus gritos de doidos tinham ido morrendo à medida que acabavam as frondes, os peixes-boi de grandes tetas de mãe que amamentavam as crias e choravam com vozes de mulher desolada nas pontas de areia eram uma espécie extinta pelas balas blindadas dos caçadores de prazer.
Infelizmente essa descrição cabe para muitos cenários do mundo.